A realidade das mulheres na música é um assunto necessário para pensar a mulher como artista.
Sendo assim, mesmo com o aumento da representatividade das mulheres na música, ainda é preciso quebrar barreiras e tabus e reafirmar que lugar de mulher é, sim, onde ela quiser!
Para falar sobre música e arte, convidamos a incrível Camila Lopez para contar um pouco da sua trajetória e da inserção das mulheres na música.
Camila Lopez é cantora e compositora. Além disso, é fundadora do Tributo Elis Regina. Também é profissional de Marketing Digital e além do mais, ela é a pessoa que fez o site da Sapatista.
Agora, vamos trazer os detalhes da entrevista que fizemos com Camila, onde ela nos traz detalhes da sua trajetória:
Camila Lopez: Profissionalmente, faz uns 6 ou 7 anos. Em virtude da minha criação, cantar era algo incogitável de assumir pro mundo. Então, a coisa veio tarde, já quando eu estava longe de casa.
Camila Lopez: Sempre acho bem difícil responder isso, porque, mesmo com todas as circunstâncias, eu sempre me senti cantora. Era como se algo dentro de mim já apontasse isso. O ser sempre esteve… o que veio depois foi o “estar” cantora.
Mas quem despertou isso bem fortemente foram os meus ídolos na música, sem dúvida.
Camila Lopez: Elis, sem dúvida. Mas eu a tenho não tão somente como a cantora. O mais atraente na Elis, pra mim, é o ser dela e o ser mulher dela.
Costumo gostar muito de pessoas que sustentam o que dizem. Sempre penso algo do tipo: se eu me chamo de cantora, se eu me apresento como cantora, o mínimo que eu tenho que fazer é saber cantar. Eu aprecio capricho nas coisas, dedicação. E não gosto de coisas mascaradas. E a Elis tem tudo isso e mais um pouco, além do fato de sustentar as paradas dela. E mais, de saber mudar de ideia, numa boa. E ainda compartilhar dizendo, “ó, realmente, mudei de ideia”.
A humanidade dela é tão simples, que é incrível e daí reflete inclusive na música.
Camila Lopez: É uma terapia indiscutível no meu caso. Eu sinto prazer cantando no chuveiro ou no palco, da mesmíssima forma. Não uso esse algo tão sagrado para alimentar meu ego. Acho que chega de mais pessoas no mundo que acham que só basta ser “bonito (a)”. Sempre penso: e aí, eu canto bonito… ah, que bacana… mas o que eu posso fazer com isso de bom pra humanidade? E se eu não puder no momento, fico bem na minha, no meu canto, reclusa, como eu tô agora na quarentena. Inclusive uma das coisas que se acentuou na quarentena em relação a percepção, é que a maioria de nós artistas, não lida bem com a questão digital das coisas. E isso passa pelo Marketing. Como atuo por aí também, tô bolando de unir meu conhecimento para estimular alguma coisa na MPB…
Dito isso, levo a música a sério num sentido bem espiritual. Porque ela fala com a alma, não com o corpo. É tão alma pra mim, que nem tem como pegar ela na mão. A gente só sente. Eu aproximo aquela vibração caso tenham ressonância comigo… e afasto, caso aquela melodia e letra não tenham ressonância comigo. Simples e complexo assim.
Camila Lopez: Eu acho que é um processo bem natural de quem mexe com música. Já me obriguei a compor, tenho muitas composições, umas que amo, outras que já nem tanto. Mas entendi que a questão é deixar isso ser fluido. Sou à moda antiga, mesmo sem ter participado estando viva naquela época, onde ninguém sofria pressão pra compor e cantar a sua própria música. Um compunha, o outro cantava. Ou os dois cantavam… ou outros dois compunham para outros cantarem… enfim.
Sempre vou colocar a intérprete na frente para o meu caso. Até porque é a intérprete quem dá performance ao som e isso é o que faço. Acho que pra quem trabalha com o canto, a interpretação é um dos pilares base da história toda. E o encanto que tem no intérprete é justamente por deixar evidente quem é aquele que está cantando, por mais subjetivo que seja. Eu acho inclusive que a relação compositor e cantor é uma coisa muito bonita.
Camila Lopez: Eu estou satisfeita sobre como estou agora. Não desejo pro momento mais nem menos. Me sinto preparada pra encarar qualquer coisa na música, desde que eu decida que isso é o melhor a fazer.
Eu gosto muito de tentar entender como posso unir propósito com ação. E também gosto de não dar passos maiores que a perna. Nesse sentido, estou falando em grana mesmo. Do tipo: vale a pena investir uma grana em gravar coisas? Vou conseguir distribuir de um jeito digno? Tô a fim de encarar isso agora? Na reclusão, não tenho pensado em futuro artístico. Até gravei um programa autoral e nem divulguei. Sabe quando tu simplesmente sente que não é hora?
Muito provavelmente, vou deixar a poeira baixar, seguir com meu projeto de Elis fazendo show quando der, pra desenferrujar. Por que enferruja… E, depois, devo pensar em lançar algo meu e também algo fruto de pesquisa de repertório que sempre faço. Tenho um milhão de músicas inéditas na manga e zero vontade de gravá-las agora.
Camila Lopez: É a mesma da mulher no mundo. Nunca tem nada de novo. Mesmas palhaçadas de sempre. Eu já não tenho saco pra essas coisas pro meu lado. Torrou minha paciência, é adeus na hora. Embora eu tenha sorte de conviver em banda com 4 homens legais… antes eram 5, mas agora saiu um rapaz e entrou a Aline Araújo, pianista incrível e linda.
Minha banda é bastante jovem, é uma galera com uma cabeça boa. Todo mundo erra na minha opinião, inclusive eu. O bonito é pedir desculpa humildemente. Se há espaço pra isso, fico tranquila. Mas pra mim é fácil falar, são só 4 homens. Mas eu sei como é a vida fora disso, por exemplo… quando tenho que passar o telefone pra um dos guris, porque o imbecil do contratante acha que me enrola por que sou mulher. Daí, se eu mandar ele longe também é capaz de não rolar show.
O que eu faço é devolver pra eles no palco, fazendo um show foda e nunca mais atendendo o telefone, porque depois eles se arrependem de terem sido escrotos, mudam até o tom de voz e vêm com papinho de vou te dar o mundo se tu assinar um contrato exclusivo comigo…E eu lá faço pacto com diabo? Eu não. Minha maior vantagem é não ser deslumbrada. Eu tenho plena consciência de que posso chegar a lugares bons sem precisar vender a minha dignidade pra isso.
Fico pensando… se eu preciso vender a minha dignidade pra alguém, que espécie de lugar bom é esse? Não existe um lugar de paz depois disso.
Então eu não sofro mais. Tive uma infância péssima, mas que me ensinou muito.
Camila Lopez: Atualmente, tenho Tributo Elis Regina que faz shows pelo Brasil. Também fomos incluídos recentemente em um catálogo de Jazz Music no mundo. Tenho minhas canções autorais, várias ideias em torno disso, mas não botei a mão na massa efetivamente. Mas, sinceramente, até aqui, tô satisfeitíssima. Zero reclamações.
Camila Lopez: Que o mundo é digital já deu pra todos nós sacarmos. A distribuição já não se faz mais como era antes, mas uma coisa não mudou: manda quem tem grana. A pandemia evidenciou ainda mais o que já era explícito, em todos os segmentos né. E no Brasil, ocorre que a desgraça geral da nação, enche os bolsos de alguns.
A arte sendo um veículo de transcrever a história do povo, vai continuar criando. Mas acho que no buraco onde entramos, vai demorar pra sair. Sem colaboratividade e menos ego, não haverá salvação. Mas sou otimista… acredito que tudo é cíclico e isso também vai passar. Pelo amor ou pela dor. Só não sei se vou tá viva pra ver….
Camila Lopez: Difícil dar conselhos estando em um lugar de privilégios. Muito fácil dizer para meus colegas erguerem a cabeça e estudar como as coisas estão no nosso mercado, com os boletos chegando regularmente. Aliás, o boleto é a única instituição brasileira que funciona.
Mas, na medida do possível, que a galera se una com quem pode ajudar a fazer aquilo que não se sabe fazer. Gostando ou não, os tempos são outros e é importante olhar a coisa de cima e pensar: tá, e aí… como que faz isso e aquilo?
Camila Lopez: Acredito que ela é o único veículo que chega a lugares do nosso inconsciente, que é capaz de fazer refletir. Por que a arte é trilha da vida de todos. Se a quarta dimensão é o TEMPO, e o tempo a gente não pega na mão e é subjetivo, então o TEMPO é igual à ARTE. Uma bela equação matemática. Meio louca a analogia, mas penso isso mesmo.
Nós da Sapatista sempre buscamos valorizar o trabalho das mulheres em diversas áreas, inclusive na música. E foi buscando esse propósito que surgiu o Sapatista ao vivo, um evento que acontece a cada quinze dias, sempre às segundas-feiras às 20h, através de lives pela plataforma do Instagram, que se propõe a convidar mulheres para um super bate-papo sobre temas variados, mas especialmente mulheres na música. Vocês podem conferir através do nosso canal no IGTV todas as nossas lives, inclusive uma edição com a Camila Lopez.
Conheça mais o trabalho da Camila lopez através dos seguintes canais:
Instagram: @camiladlopez e @tributoelisregina
Facebook: Camila Lopez