A escola Inglesa de cerveja ou Escola Britânica de cerveja é a escola que abrange a Inglaterra, Escócia e a Irlanda. E, assim como a escola alemã, é conhecida por suas lagers.
Além disso, nessa escola, temos como tradição as ales. Ademais, são nesses países que você vai encontrar os mais tradicionais pubs, onde a grande maioria das pessoas tem o hábito de consumir a cerveja direto do barril – draugth beer – tanto em keg, nos dias atuais, mas muitos ainda mantêm a tradição de vender a cerveja diretamente de cask (barricas de madeira).
Na escola inglesa, apesar de existirem muitos estilos de cerveja, a tradição do consumo de Porters e Pale Ales se mantém até os dias de hoje. E, em geral, todos os estilos são menos carbonatados e apresentam menos espuma. Sendo assim, foi buscando manter a cultura cervejeira que, em 1971, surgiu a CAMRA – Campaing for Real Ales. Essa é uma organização de consumidores independentes, hoje com mais de 185 mil membros, que promovem a conservação das tradições nos pubs, clubs, cervejas e outros produtos regionais ameaçados pelas agressivas práticas comerciais dos grandes grupos cervejeiros.
O início da história da escola inglesa de cerveja começa ainda na era do ferro, quando as ilhas britânicas eram habitadas por tribos celtas que, segundo os registros, produziam e bebiam uma bebida alcoólica fermentada a partir de grãos.
Além disso, durante o Império Romano, parte da grã Bretanha foi tomada e governada por Roma, que levou consigo técnicas de vinificação para a cerveja, já que as ilhas não eram propícias para o cultivo de uva.
Com o fim do Império Romano no século V e a subsequente ocupação das ilhas pelas tribos anglo-saxãs, vindas da Europa Ocidental, foi introduzido no vocabulário da língua inglesa a palavra “Ale”, originada da palavra dinamarquesa para cerveja øl.
Além disso, era comum o uso de aditivos na cerveja, como ervas e raízes, e, até o momento, não se utilizava o lúpulo, que só foi introduzido nas ilhas britânicas por volta do século XV. Assim, com a utilização do lúpulo, a cerveja passou a ter um nome diferente. Nesse sentido, eram chamadas de Beer, e as antigas, produzidas sem lúpulos, eram chamadas de Ale, distinção que perdurou até o fim do século XVII.
Dos países que fazem parte da escola britânica, a Irlanda foi o último país a acrescentar o lúpulo em suas receitas de cervejas. Isso ocorreu devido a limitações de importação, e que adquiriu relevância no mercado cervejeiro mundial a partir do século XVIII, quando Arthur Guinness fundou, em Dublin, a cervejaria que leva seu nome.
Com o passar do tempo, as ilhas britânicas foram aperfeiçoando seus métodos de produção de cerveja, principalmente em relação ao beneficiamento dos insumos, como os maltes de tosta. Em 1816, houve uma lei inglesa que proibia o uso de qualquer tipo de ingrediente na cerveja além de malte e lúpulo, o que motivou a criação, em 1817, da torrefação de tambor, que permitiu a utilização de maltes muito escuros e torrados, adicionando sabor às Porters e Stouts.
Além disso, o uso dos maltes proporciona uma doçura natural muito característica da escola inglesa, que, junto com os lúpulos ingleses, que trazem características herbais e terrosas, fazem dessas cervejas muito equilibradas.
Um estilo clássico da escola inglesa é a Bitter Ale, que teve seu primeiro rótulo registrado no ano de 1876, na cidade de Burton-on-Trend, chamada Bass Pale Ale.
Sendo assim, as Bitter produzidas nessa época eram diferentes das que conhecemos hoje. Nesse sentido, segundo a história, só após a Primeira Guerra Mundial é que tomaram a forma que conhecemos hoje. Além disso, essas cervejas são produzidas normalmente apenas com malte pale ale, o que confere um toque amendoado, que conta frequentemente com um suave toque tostado.
Ademais, um dos estilos mais conhecidos da escola inglesa é a India Pale Ale. Nesse sentido, existem alguns relatos sobre a sua origem, mas o que mais se reconhece hoje é que eram versões mais lupuladas das English Pale Ale, que eram destinadas à Índia, e você pode conferir um pouco mais sobre essa estilo da cerveja no nosso post sobre Cerveja IPA:
Outros dois estilos muito conhecidos da escola inglesa são as Porters e Stouts, que tiveram sua origem na Inglaterra. Sendo assim, a Porter se transformou bastante ao longo do tempo. No início, ela era produzida a partir de malte torrado, que lhe conferia alto corpo e sabor tostado, o que indica que era muito mais parecida atualmente com as Stouts.
Contudo, com o desenvolvimento tecnológico, percebeu-se que o malte claro tinha um rendimento muito maior, e então passou a ser utilizado para a produção da Porter. Mas apenas o malte claro não conferia a cor para a cerveja Porter; por isso, passou-se a utilizar, em muitas cervejarias, o açúcar queimado, embora fosse expressamente proibido, o que alterou completamente o perfil da cerveja.
A partir do desenvolvimento do tambor de torrefação é que se passou a utilizar o maltes tostados, modificando novamente o perfil da Porter. Nesse sentido, a Porter se chamava assim pelo fato de ser associada aos trabalhadores locais dos portos que tinham como hábito o consumo desse estilo de cerveja. Assim, por volta de 1759, o estilo de cerveja escura mais produzido era a Porter e, com o passar do tempo, alguns fabricantes passaram a produzir uma cerveja chamada de Stout Porter, uma versão mais forte e encorpada de Porter. Você pode conferir um pouco mais sobre essa estilo da cerveja no nosso post sobre Cerveja Stout:
Outras cervejas bem marcantes da escola inglesa são as ales escocesas, que apresentam características únicas, principalmente devido à região geográfica em que se localizam. Nesse sentido, a Escócia é um país mais frio que o restante da escola inglesa e, devido a isso, as suas ales são fermentadas a temperaturas mais baixas. A fermentação de uma cerveja ale em temperaturas baixas diminui a formação de ésteres frutais, trazendo o malte para o primeiro plano. Antigamente, o malte era seco nessa região com turfa, trazendo para as cervejas um aroma defumado. Sendo assim, foi só a partir de novas técnicas de secagem com carvão que as notas defumadas foram eliminadas das cervejas.
Atualmente, cervejeiros artesanais da Escócia buscam retomar a utilização da turfa, resgatando suas raízes, e produzindo ales escocesas locais como se fazia antigamente.
Conheça os principais estilos da escola inglesa dde cerveja:
Cerveja de coloração dourada a cobre, de amargor médio, corpo leve a médio, com residual adocicado do malte leve a médio. O teor alcoólico varia de 3,0% a 4,2%.
Cerveja da escola inglesa, também chamada de Best Bitter ou Premium Bitter, é mais robusta que a Ordinary Bitter. De coloração cobre profundo, com corpo médio e presença residual de malte média, amargor médio e aroma e sabor de lúpulo baixo à médio. O teor alcoólico varia de 4,2% a 4,8%.
De coloração ambar a cobre profundo, amargor, aroma e sabor de lúpulo é médio a médio-alto. Sabor e aroma de malte de médio-alto e de corpo médio. O teor alcoólico varia de 4,8% a 5,8%
Cerveja de coloração dourada a cobre, com notas terrosas, herbáceas, florais e de frutas de caroço (característico dos lúpulos ingleses), com amargor, aroma e sabor de lúpulo médio-baixo a médio-alto. De corpo médio, com suaves notas de malte no sabor e no aroma, com possíveis notas de caramelo. O teor alcoólico varia de 4,4% a 5,3%.
Cerveja da escola inglesa muito caracterizada pelo amargor e notas de lúpulos ingleses presentes no aroma, sabor e aftertaste, remetendo a notas herbais, terrosas, florais e de frutas de caroço). Para que a cerveja seja refrescante e seca, é aconselháel um alto teor mineral na água. O aroma de lúpulo é acompanhado por ésteres frutais em concentrações média à elevada, de corpo médio e presença moderada de malte. Teor alcoolico varia de 4,5% a 7,1%.
Coloração varia de cobre avermelhado a marrom avermelhadi, de amargor médio, aroma e sabor de lúpulo, em geral, ausente, mas podendo aparecer até nível médio. Além disso, possui dulçor de caramelo baixo a médio, com leve tostado e decorpo médio. Teor alcoolico varia de 4,0% a 4,8%.
Cerveja de coloração cobre a marrom escuro, com aroma e sabor de lúpulo baixo, de corpo médio, e notas de biscoito e tostado contribuem para o aroma e sabor. Teor alcoolico varia de 4,2% a 6,0%.
Cerveja de coloração marrom escuto a bem escuro, com nuances avermelhados. Dulçor residual de malte baixo a médio, com notas de caramelo e chocolate, de corpo baixo a médio. Além disso, não devem estar presentes notas de malte torrados e queimadas. Amargo médio, croma e sabor de lúpulo de baixo a médio.
Coloração marrom escuro a preta, aroma e sabor de malte médio a médio-alto, com notas tostadas que remetem a cacau e caramelo em harmonia com o amargor dos maltes escuros. Doçura residual presente, de amargor médio a alto, e sabor e eroma de lúpulo baixo a médio. Presença de ésteres frutais balanceados com as notas tostadas. Teor alcoolico varia de 5,1% a 6,6%.
Cerveja da escola inglesa, também chamada de Milk Stout ou Cream Stout, possui corpo elevado e amargor suave proveniente dos maltes tostados. Nesse estilo de cerveja, é comum a adição de lactose para conferir maior corpo. Dulçor de malte remetendo a chocolate e caramelo devem prevalecer no sabor e contribuir para o aroma. Por isso, de forma geral, é uma cerveja encorpada e adocicada. Teor alcoólico varia de 3,2% a 6,3%.
Pode ser considerada uma variação da Sweet Stout porém com adição de aveia ao invés de lactose para conferir corpo e complexidade ao invés de corpo e doçura. A aveia fornece complexidade no sabor, remetendo a notas terrosas e amendoadas e também suavidade e cremosidade. Teor alcoólico varia de 3,8% a 6,1%.
Essa cerveja é caracterizada pelo uso de cevada torrada, apresentando características mais picantes e tostadas como o café e confere textura a cerveja. Coloração preta com espuma cremosa e consistente. Sabor suave de caramelo acompanhado por um aftertaste torrado, amargo e seco. Apresenta caráter nítido de malte torrado, podendo conter uma acidez proveniente da cevada torrada. Aroma e sabor de lúpulo em geral não são percebidos, e amargor médio a elevado. Corpo médio-baixo a médio, de final seco e torrado. Teor alcoólico varia de 4,1% a 5,3%.
Cerveja da escola inglesa, também chamada de Foreign Stout, apresenta coloração preta e espuma persistente. Aroma de grãos torrados de moderado a intenso, apresentando notas de café, chocolate e suave queimado. Algumas versões apresentam aromas mais licorosos ou alcoólicos. Aroma e sabor de lúpulo inexistente, variando de sabores de malte mais adocicados ou mais secos, com caráter de malte torrado bem presente. Corpo médio a elevado e final com amargor de torra marcante. Teor alcoólico varia de 5,7% a 9,5%.
Cerveja de coloração preta, com elevados teores alcoólicos. Aroma e sabor de maltes escuros que remetem a notas de toffee e caramelo balanceados com o aroma médio de lúpulo e ésteres frutais (como ameixas e passas). Amargor médio em harmonia com o residual adocicado do malte, sem adstringência ou se presente em nível muito baixo. Aroma de lúpulo sutil a moderado, remetendo a notas cítricas, florais ou herbais. Sabor marcante de maltes torrados, remetendo ao cacau e café com corpo elevado. Teor alcoólico varia de 7,0% a 12,0%.
O nome Old Ale remetia às cervejas que eram envelhecidas em barris de madeira por 1 ano ou mais, o que adicionava notas de acidez e desenvolvimento aromático e, ao final, blendadas com cervejas mais frescas.
Cerveja de corpo médio a alto, com presença residual adocicado do malte, com aroma e sabor de lúpulo muito baixo e presença no sabor média. Amargor baixo e balanceado com o malte que remete a caramelo e leve dulçor residual. Ésteres frutais no aroma e sabor podem contribuir para o perfil e os álcoois variados e complexos. Devido ao envelhecimento em barris de madeira, o estilo apresenta notas oxidativas e vinificadas e outras notas de madeira. Notas de estábulo, couro e fenólicas podem estar presentes em baixas concentrações, devido ao uso de Brettanomyces. Teor alcoólico varia de 6,3% a 9,1%.
Cerveja encorpada de residual doce do malte em níveis elevados. Complexidade de álcoois superiores e ésteres frutais elevados, contrabalanceada pelo amargor médio e teor alcoólico extremamente elevado. Aroma e sabor de lúpulo de médio a baixo, com aromas de malte que remetem a caramelo e presença de notas envelhecidas como cereja e vinificação são bem vindas. Teor alcoólico varia de 8,5% a 12,2%.
Cerveja muito maltada e encorpada, sem percepção de amargor, assim como aroma e sabor de lúpulo são muito baixos. Notas de caramelo costumam estar presentes, com perfil levemente torrado em baixa intensidade. Podem ou não apresentar aroma defumado, lembrando turfa. Teor alcoolico varia de 6,6% a 8,5%.
E aí, qual desses estilos te deu água na boca?