"Cerveja é coisa de mulher, sim" afirma a empresária e sommelier Roberta Pierry

Já que chegou o verão e tomar uma boa cerveja – com moderação – está mais do que liberado, ou que estamos no Rio Grande do Sul, e costumamos usar de bairrismo para nos vangloriarmos das nossas façanhas, aproveitemos a oportunidade para celebrar as cervejas da Sapatista, que além de acumular prêmios desde a sua criação, é resultado da inspiração da gaúcha Roberta Barbosa Pierry, de 33 anos.

Início de tudo

Betinha, como é conhecida nos inúmeros bares da noite e famosas feiras de rua da Capital, começou a fazer cerveja em 2015 para consumo próprio, já que era grande apreciadora da bebida. Em entrevista concedida ao jornal Timoneiro nesta segunda-feira, 11, por videoconferência, ela nos confidenciou que adquiriu os primeiros conhecimentos da forma mais simples: fazendo pesquisa na internet e lendo livros sobre o tema. “Não era o objetivo inicial que virasse um negócio rentável”, pontuou.

Nascimento da Sapatista

Somente no final de 2018, já segura dos resultados apresentados por ela mesma, foi que vislumbrou a possibilidade de vender o produto, oficializado em 2019, no dia 8 de março, não por coincidência o Dia Internacional da Mulher, com a concepção da Sapatista Comércio de Cerveja Artesanal LTDA, que então se lança ao mundo como uma cerveja revolucionária, feita por mulheres, surgindo da paixão por cerveja e culinária. “Nosso objetivo é resgatar a ancestralidade do mundo cervejeiro e reafirmar o papel da mulher nessa história”. E é por isso que cada tipo da cerveja leva o nome de uma mulher marcante na biografia feminina mundial.

De acordo com Roberta, que durante sua jornada de estudos descobriu que foram as mulheres que inventaram a bebida em uma das suas atividades domésticas na culinária, e continuaram à frente da sua produção – o que embasa ainda mais o que afirma ao dizer que cerveja é coisa de mulher, sim – (Leia mais sobre isso no blog: a invenção das mulheres), ainda faltava representatividade no meio: “Vejo como uma missão resgatar essa ancestralidade no mundo cervejeiro, na luta feminista”, concluiu a empresária.

roberta pierry 2

Produção

Betinha contou à nossa reportagem que atualmente a cervejaria é cigana, ou seja, ela não tem fábrica própria. “Eu elaboro as receitas e encaminho para fábricas parceiras conforme a demanda; faço o controle de qualidade e revendo para diversos locais em Porto Alegre, e, a partir deste ano estaremos presentes também na bastante frequentada London Pub, em Canoas (Rua Dr. Barcelos, 1350 – Centro), já no meio de janeiro”, revelou, para a alegria dos canoenses que são amantes da cerveja.

Hoje a marca conta com seis rótulos: Filipina – Double Ipa, Incendiária – Red Ipa, Pantera Negra – Imperial Stout, Maria da Penha – Saison com butiá, Olga – Pilsen, Candace – Amber Ale com café. A pioneira foi a Incendiária, cujo estilo, conforme nos explicou a sommelier, é Red Ipa, que, para os entendidos em cervejas, significa que é de cor ambar, lupulada e tem um leve sabor de caramelo, o que complementa com o amargor dela, e “é fácil de beber”, pois contém ingredientes bem balanceados  que dão origem a uma cerveja de alta drinkability, termo em inglês que quer dizer que é de simples compreensão e degustação.

Pandemia

O aniversário de um ano da marca, que se encontrava em pleno crescimento, colidiu com a chegada da pandemia, o que alterou a sua comercialização, pois tinha na sua maioria clientes jurídicos. Então, com o fechamento dos bares e eventos, a estratégia de vendas mudou para atender mais a pessoas físicas. Agora, a empresa trabalha com o sistema de Delivery e pela plataforma Ecommerce, e não exige pedido com quantidade mínima ou máxima, podendo ser solicitado através de um link na página www.sapatista.com.br, inclusive para todo o Estado e resto do Brasi

Dificuldades

A produção ainda carrega o peso do desconhecimento acerca da bebida do tipo artesanal. Pierry frisou a importância das grandes cervejarias, que de certa forma popularizaram e disseminaram mais informações sobre ela. “Existe sim uma barreira por conta de um valor mais elevado, que é justificado pela produção em menor escala e pela alta taxa de impostos que acaba problematizando a sua comercialização”. Além disso, Roberta enfrentou preconceitos por se tratar de uma mulher no mundo cervejeiro, fato amenizado depois do primeiro prêmio recebido, dando a devida credibilidade ao seu trabalho.

Prêmios

– Incendiária – medalha de ouro Copa Sul-America de Cervejas 2019 (categoria Double Hoppy Red Ale);
– Incendiária – medalha de prata Copa Internacional de Cerveja Poa 2019 (categoria Double Hoppy Red Ale);
– Pantera Negra – medalha de prata Copa Internacional de Cerveja Poa (categoria English-Style Imperial Stout);
– Maria da Penha – medalha de bronze Festival Brasileiro da Cerveja 2020 (categoria Belgian-Style Fruit Beer).