Russian imperial stout: saiba mais sobre o estilo que pertence à Pantera Negra da Sapatista

Você já conhece o estilo Russian Imperial Stout? De acordo com o guia do BJCP, essa é uma cerveja representante da família das ales, intensamente saborosa e forte. Porém, apesar dos sabores intensos, os componentes dessa cerveja devem estar em equilíbrio, fundindo-se para criar juntos uma complexa e harmoniosa cerveja, que não tenha aquecimento alcoólico em excesso.

Nós já falamos em outro artigo do blog sobre as Stouts, de maneira geral. Mas hoje vamos entrar mais a fundo no estilo específico escolhido para acolher a nossa Pantera Negra.

Nossa versão é de coloração marrom escura, bastante opaca. Porém, existem variações do estilo que podem apresentar coloração castanho avermelhada, até preta. A espuma também pode variar de coloração, passando de marrom claro a marrom escuro. Geralmente, essas cervejas apresentam uma boa formação de espuma, embora a retenção costume ser baixa, por conta do elevado teor de álcool.

Russian Imperial Stout: um estilo de características únicas

Nesse estilo de cerveja, o aroma rico e complexo é obtido através de notas maltadas e grãos tostados, trazendo também ésteres frutados, presença de lúpulo e álcool.

No mercado, podem ser encontrados exemplares onde o caráter de malte tostado pode variar de notas leves a moderadamente fortes de café, chocolate escuro, ou leve torrefação. Assim como as outras características maltadas, que podem ir de sutis a intensas.

Algumas Russian Imperial Stouts podem apresentar um leve caráter de caramelo, mas isso deve ser sutil, adicionando apenas complexidade no aroma, sem dominar. Enquanto que os ésteres frutados podem variar de baixos a moderadamente fortes e geralmente remetem a frutas escuras, como ameixas, ameixas pretas e uvas passas.

O aroma de lúpulo varia entre muito baixo a bastante presente e pode conter qualquer variedade de lúpulo. Como é uma cerveja com uma graduação alcoólica elevada, que varia de 8 a 12%, algum caráter de álcool pode estar presente, mas, como falamos anteriormente, não deve ser acentuado, lembrando solvente. Algumas versões mais maturadas e envelhecidas podem ter ainda um aroma que remete a algo vínico, mas nunca devem ser ácidas.

Assim como o aroma, o sabor rico, profundo, complexo e bastante intenso pode apresentar quantidades variáveis de grãos tostados, maltados, ésteres frutados, amargor de lúpulo e presença de álcool. O amargor geralmente é médio a alto. O sabor de lúpulo pode ser de qualquer variedade e varia de médio-baixo, para alto.

Os maltes utilizados podem sugerir sabores que remetem a chocolate amargo, cacau e café. Os ésteres, que podem variar de intensidade baixa a alta, podem novamente assumir um caráter de frutas escuras, que pode lembrar uvas passas, ameixas ou ameixas secas. Já a sensação de boca e o final podem variar de relativamente seco a moderadamente doce, com um leve tostado persistente, podendo aparecer o amargor de lúpulo e um caráter de aquecimento, mas de maneira equilibrada.

No estilo, o corpo apresenta-se elevado e licoroso, com uma textura aveludada e deliciosa. A carbonatação pode ser baixa a moderada, dependendo da idade e do tempo de maturação do exemplar.

Russian imperial Stout: história do estilo

Apesar do nome, não se engane. A primeira Russian Imperial Stout parece ter sido produzida na Inglaterra, por volta do século XVIII. A história propagada sobre o estilo é de que, durante uma viagem pela Inglaterra, a Imperatriz Catarina teria gostado tanto da cerveja Stout que fez uma encomenda para levar à Rússia. Porém, a longa viagem teria arruinado o primeiro carregamento da cerveja e, por isso, as cervejarias londrinas tiveram que refinar a receita para aguentar a viagem. Assim, a cerveja produzida era mais forte em álcool, bem mais amarga e com mais corpo do que as Stouts costumeiras. 

A Imperatriz, conhecida como Catarina, a Grande (1729-1796), tornou-se famosa por sua abertura para a inovação cultural. Ela amava política, cultura e os prazeres da vida. Tal foi a preferência de Catarina pela cerveja Stout, que ela importou grandes quantidades para a corte de São Petersburgo e para o exército russo, contribuindo para a fama e prestígio deste estilo de cerveja.

Russian imperial stout: dicas sobre harmonização

Como já abordamos no último texto do blog da Cerveja Sapatista sobre harmonização, nossa complexa Russian Imperial Stout é ideal para harmonizar com uma infinidade de opções. O exemplo mais clássico é o Petit gateau, que se assemelha nas notas intensas tanto de cacau quanto de chocolate.

Quando pensamos em queijos, é a companhia perfeita para os mais fortes, como o gorgonzola. Sua potência eleva a capacidade para o equilíbrio com alimentos mais salgados, como itens de charcutaria, sendo um ótimo acompanhamento para uma tábua de frios. Ainda, vai muito bem com doces que possuem chocolate em sua composição, tiramissu, creme brulée ou brigadeiro e é o estilo ideal para finalizar uma sequência de harmonização, que sempre deve iniciar com cervejas mais leves e terminar com as cervejas mais intensas e complexas.

Pantera Negra: a russian imperial stout da Sapatista

A Sapatista é uma cerveja revolucionária que surgiu com o ideal de resgatar a ancestralidade do mundo cervejeiro e reafirmar o papel da mulher nessa história. Mas, para além do mundo cervejeiro e de seus desafios, buscamos resgatar a vida das grandes mulheres que vieram antes de nós e que abriram os caminhos para que hoje pudéssemos estar aqui contando sobre as suas lutas.

Você já sabia que cada rótulo da Sapatista faz referência a uma grande mulher? Hoje, vamos contar a história de Assata Shakur, a Pantera Negra que homenageamos através da nossa Russian Imperial Stout. 

Assata Shakur: a história da Pantera Negra da Sapatista

Nascida Joanne Deborah Byron, em 1947, em Nova York, nos EUA, Assata Shakur participou ativamente do já extinto partido dos panteras negras. Dentro do partido, trabalhou para organizar protestos e programas de educação comunitária. Começou a utilizar o nome Assata Olugbala Shakur em 1971, rejeitando Joanne como um “nome de escravo”. 

Em 2 de maio de 1973, foi parada pela Polícia Estadual de Nova Jersey, baleada duas vezes e depois acusada injustamente de assassinato de um policial. Assata passou seis anos e meio na prisão sob circunstâncias brutais antes de escapar da ala de segurança máxima da Penitenciária Clinton para Mulheres em Nova Jersey e, em 1979, se exilar em Cuba e entrando na lista dos mais procurados do FBI.

O partido dos panteras negras surgiu nos EUA em defesa da comunidade afro-americana. No princípio, surgiu como um grupo voltado ao combate contra a violência policial contra os negros durante a década de 1960, no contexto do movimento dos direitos civis nos EUA. Contribuíram de maneira significativa na luta anti-imperialista, solidarizaram-se com os povos oprimidos de todo o mundo e combateram a insana máquina de guerra dos EUA.  Sofreram consideravelmente com a repressão do governo dos EUA. O FBI realizou inúmeras ações para enfraquecer o grupo, que acabou desaparecendo na década de 1980.

Dica da Sapatista

E aí, gostou de saber mais sobre a RIS? A nossa versão do estilo é intensamente saborosa, com malte torrado em intensidade média-alta e aroma e sabor de frutas secas e escuras. Apesar de licorosa, é bastante equilibrada e quase não aparenta carregar seus intensos 9% de teor alcoólico e 70 IBUs. 

Não é à toa, que nossa Pantera Negra já foi premiada com medalha de prata na Copa Internacional de Cerveja de Poa em 2019. Por sua robustez e complexidade, esse é um ótimo estilo para guardar e provar após um tempo maior de maturação. O tempo e a paciência podem ser recompensadores e trazer boas surpresas! Assim, indicamos tomar uma Pantera Negra fresquinha e guardar outra para envelhecer e abrir em algum momento especial.