Entre as tantas paixões da vida da Roberta, a cerveja e suas amizades sempre estiveram entre as maiores delas. Foi então que, a partir da vontade de fazer uma boa cerveja para o seu consumo e das amigas que, em 2015, a gaúcha Roberta Barbosa Pierry, então com 27 anos, resolveu aprender a fazer a própria cerveja. Sendo assim, foi a partir de leituras de livros e do material disponível na internet que ela iniciou seus estudos nesse universo encantador.
Roberta sempre gostou de cozinhar e ficou maravilhada quando descobriu que era possível “cozinhar a própria cerveja”. Foi assim que surgiram as primeiras receitas, produzidas na panelinha de casa e que, poucos anos mais tarde, estariam conquistando os exigentes paladares dos juízes de concursos cervejeiros pelo Brasil. No início, não era o objetivo que se tornasse um negócio rentável, mas as amigas foram provando e aprovando suas produções, e aquela paixão cervejeira começou a ser compartilhada com mais gente.
É fato que os conhecimentos adquiridos na faculdade de biologia e no mestrado em botânica facilitaram o entendimento da Roberta sobre toda a bioquímica envolvida nos processos cervejeiros. Ela, que sempre foi fascinada pela natureza e seus bioprocessos, enxergou nesse meio uma forma de aplicar diversos dos seus propósitos. Sendo mulher e lésbica, nos festivais em que frequentava, ela não costumava encontrar marcas de cerveja onde se sentisse plenamente representada; pelo contrário, encontrou um ambiente predominantemente masculinizado, onde a maioria dos proprietários de cervejaria eram homens, que, muitas vezes, recorriam a propagandas que objetificavam os corpos das mulheres.
Durante sua jornada de estudos, Roberta descobriu que foram as mulheres que inventaram a bebida em uma das suas atividades domésticas na culinária e, a partir daí, viu como sua missão resgatar essa ancestralidade no mundo cervejeiro, na luta feminista. Foi assim, que, em 2018, fundou a Sapatista, a cerveja feita por mulher.
Um pouco da trajetória da Sapatista
Em seu primeiro ano de vida, a Sapatista produziu suas receitas como cigana na cervejaria Continente. Esse modelo de cerveja cigana é bastante comum aqui no Brasil e é uma forma de viabilizar o início de uma trajetória cervejeira legalizada e com um investimento financeiro menor do que seria ter uma fábrica própria.
Foi dessa parceria que surgiu a primeira receita premiada em concursos cervejeiros na fábrica da Continente. Com menos de um ano de história no mercado, A Incendiária, uma Red IPA cheia de personalidade, conquistou os jurados da Copa Sul-Americana de Cerveja, em 2019, recebendo medalha de ouro em sua categoria. Mais tarde, a cerveja que se tornou carro-chefe da marca conquistou também a medalha de prata na Copa Internacional da Cerveja de Porto Alegre, também em 2019.
No primeiro festival que participou com a cerveja Sapatista, o festival sul americano da cerveja, em Porto Alegre, Roberta ficou insegura se deveria estender sua bandeira, mas respirou fundo e assim o fez. Foi aí que várias pessoas chegaram ao estande declarando como se sentiam representadas, e ela percebeu que tinha decidido fazer a coisa certa.
Assim, a trajetória da Sapatista, como empresa, reflete a história da vida da Roberta, que entendeu que é preciso se posicionar e enfrentar o preconceito que existe em nossa sociedade. É preciso ter coragem, encontrar forças, bater no peito e levantar a bandeira, para que, um dia, seja normal que todas as pessoas sejam respeitadas e possam viver e amar.
As parcerias que surgem pelo caminho
Nesse caminho em busca de fazer cerveja com propósito, a cerveja Sapatista fez algumas colaborações potentes e bonitas. Em 2019, juntamente com o coletivo Pitanga Gastronomia e as cervejarias Oripacha, DaLuz e Coletivo Minore, todos negócios gerenciados por mulheres, organizou a primeira edição do Festival Mulher Cervejeira, uma iniciativa que visa a compartilhar o conhecimento cervejeiro e valorizar o protagonismo feminino na área. Com a pandemia, a segunda edição do festival, que estava agendada para março de 2020, acabou tendo que ser adiada, e as cervejarias continuaram unidas propagando conhecimento cervejeiro nas redes sociais.
A chegada da pandemia no Brasil
Com a pandemia, também a marca, que se encontrava em pleno crescimento, precisou realinhar algumas de suas estratégias. A maioria dos clientes era pessoas jurídicas; então, com o fechamento dos bares e a impossibilidade de realizar eventos, a estratégia de vendas mudou para atender mais as pessoas físicas, e a comunicação se rearranjou, trazendo mais conhecimento cervejeiro para os clientes.
Agora, a empresa trabalha com o sistema de Delivery e pela plataforma Ecommerce, podendo o pedido ser solicitado através de um link aqui no site, inclusive para todo o RS e resto do Brasil.
Atualmente, as produções estão sendo realizadas na núcleo cervejaria, fábrica da DaLuz, na zona norte de Porto Alegre, local onde também é o escritório da cerveja Sapatista e onde a Roberta participa das produções bem de perto e controla a qualidade de todas as cervejas.
Sapatista: uma cervejaria com vários prêmios
Em sua curta trajetória, a cerveja Sapatista já coleciona algumas receitas premiadas. A consolidação e recompensa de aliar qualidade e dedicação com propósito traz muito orgulho. Confira os prêmios que a cervejaria conquistou até agora:
– Incendiária – medalha de ouro Copa Sul-America de Cervejas 2019 (categoria Double Hoppy Red Ale);
– Incendiária – medalha de prata Copa Internacional de Cerveja Poa 2019 (categoria Double Hoppy Red Ale);
– Pantera Negra – medalha de prata Copa Internacional de Cerveja Poa (categoria English-Style Imperial Stout);
– Maria da Penha – medalha de bronze Festival Brasileiro da Cerveja 2020 (categoria Belgian-Style Fruit Beer).
Os rótulos da Sapatista e a mensagem carregada por eles
Filipina – A Double IPA da cerveja Sapatista é uma cerveja de cor dourada, forte, limpa, seca e sem aspereza. Seu rótulo é uma homenagem a Gabriela Silang, uma líder militar, que se tornou a primeira líder feminina da Revolução Filipina. Ela se recusou a ver as mulheres apenas como vítimas de guerras e lutou ao lado dos homens pela emancipação.
Maria da Penha – Do estilo Saison, é uma Cerveja belga, refrescante, moderadamente amarga e final seco. Elaborada com polpa de butiá que adiciona complexidade com complemento para o caráter da levedura. A cerveja leva esse nome em homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes ,uma farmacêutica brasileira que lutou para que seu agressor viesse a ser condenado. Maria da Penha é líder de movimentos de defesa dos direitos das mulheres e dá nome a Lei da Maria da Penha, importante ferramenta legislativa no combate à violência doméstica e familiar contra mulheres no Brasil.
Olga – Uma Pilsen, clara, altamente carbonatada e de corpo leve. Possui sabor neutro e baixo amargor. O rótulo faz homenagem para Olga Benário, uma revolucionária que lutava para acabar com as desigualdades e injustiças sociais. Nasceu em Munique, na Alemanha, em 1908, numa família judia de classe média. Em 1942, morreu executada na câmara de gás pelos nazistas.
Candaces – Do estilo amber ale, é uma cerveja de cor âmbar, moderadamente lupulada e com um leve sabor caramelo. Para dar aquele toque especial, foi adicionada a variedade de café Catuaí Vermelho extraído a frio (cold brew). O rótulo faz homenagem às Candaces, mulheres guerreiras que detinham o poder de seu reino, no sul do Egito, antes da era cristã, formando uma sociedade matrilinear.
Pantera Negra – Uma cerveja escura, intensamente saborosa com maltes torrados e sabor de frutas secas e escuras. O resultado disso é uma cerveja complexa e harmoniosa. É uma homenagem para Assata Shakur, que lutou pelos direitos das pessoas negras, como pantera negra, nos anos 60, ícone de resistência, força e luta contra o racismo.
Incendiária – Uma cerveja lupulada com leve sabor caramelo. Com ingredientes bem balanceados que dão origem a uma cerveja de alta drinkability. O rótulo faz homenagem à Louise Michel, professora, poeta e escritora que lutou pela revolução social na França. Uma das mais notáveis anarquistas feministas, sindicalistas e educadoras libertárias do século XIX.
E aí, gostou de saber mais sobre a trajetória da Cerveja Sapatista? Você também faz parte dessa história com a gente! Muito obrigada por nos acompanhar até aqui, você é muito importante pra nós.