Escola Alemã de cerveja: história em cada detalhe!

Você sabia que, atualmente, existem quatro Escolas Cervejeiras? Nós já falamos aqui sobre a Escola Americana, Escola Inglesa e Escola Belga, então não deixe de conferir os conteúdos sobre todas as escolas. 

Hoje, vamos falar sobre a Escola Alemã, que é responsável pelo estilo de cerveja mais consumido no mundo e, atualmente, o quarto país no ranking mundial de produção de cerveja em volume. A Escola Alemã abrange a Alemanha, a Áustria e a República Tcheca.

Além disso, a cerveja chegou na região da Alemanha junto com a expansão do império romano e dos movimentos migratórios da Mesopotâmia. E, como nós já contamos aqui, a produção de cerveja era uma tarefa doméstica e de responsabilidade das mulheres. 

Após o século XI, no sul da Alemanha, a cerveja começou a ser produzida em mosteiros pelas freiras e monges. Até esse momento, o lúpulo não era utilizado na cerveja, mas se utilizavam especiarias e ervas para temperar a cerveja, que era chamada de “gruit”. 

No século XI, a partir dos estudos da monja benedita alemã Hildegard von Bingen, é que se passou a ter o conhecimento sobre o poder conservante do lúpulo e sobre a sua habilidade de conferir amargor e sabor à cerveja. A partir de então, ele começou mais amplamente a ser utilizado na produção de cerveja

Reinheitsgebot: a lei de pureza alemã

A lei da pureza alemão (Reinheitsgebot em alemão) foi criada em 23 de abril de 1516, por Guilherme IV, duque da Baviera, e determinava que a cerveja só poderia ser produzida a partir de água, malte e lúpulo. Nessa época, não se tinha o conhecimento da existência das leveduras e muito menos que eram elas as responsáveis pela produção de álcool na cerveja. Nesse sentido, esse ingrediente passou a ser introduzido na Lei da Pureza Alemã apenas no século XVII. 

Mas bem, a lei de pureza alemã, promulgada em Baviera, impactou séculos depois o estilo de produção e consumo de cerveja em toda a Alemanha, que, após a sua unificação, adotou a lei de Baviera como uma lei nacional no ano de 1906. 

A Reinheitsgebot é um traço cultural muito importante da escola alemã, já que o público consumidor da Alemanha rejeita qualquer bebida que não esteja de acordo com a Lei da Pureza. Por lá, se acredita que seguir os príncipios da lei garante uma qualidade superior de cerveja alemã em relação a qualquer cerveja de outro país. Embora muitos acreditem que a Reinheitsgebot tenha sido a primeira lei que regulamentou os ingredientes na cerveja, ela é praticamente uma cópia de lei promulgada em Munique em 1487, mas, sem dúvidas, foi a que mais popularizou. 

Outra curiosidade sobre a Reinheitsgebot é que o principal objetivo dela era estabelecer preços sobre alguns estilos de cerveja comercializados na época, passando a ser oficialmente chamada de Lei da Pureza apenas após a unificação da Alemanha. 

Além disso, um dos objetivos de se restringir a utilização de alguns ingredientes na cerveja era proibir a utilização de grãos de trigo e centeio, que, muitas vezes, faltavam no mercado para a produção de pão. Mesmo que a lei tivesse outros objetivos diretos na época, ela propiciou à escola alemã produzir cervejas com pouca variação de ingredientes e receitas, estabelecendo um padrão de extrema qualidade independente de onde ela é produzida. Esse ponto é muito positivo, mas, ao mesmo tempo, restringe a criatividade e possibilidade da utilização de diversos ingredientes na cerveja, que podem ser de extrema qualidade também. 

No entanto, tudo isso não quer dizer que as cervejas da escola alemã sejam superiores às cervejas de outras escolas e vice-versa, afinal, cervejas produzidas com outros ingredientes que não apenas malte podem ser muito boas!

Principais estilos de cerveja da Escola Alemã de cerveja

A escola alemã é responsável pelo estilo de cerveja mais consumido no mundo, além de possuir uma lealdade à cultura regional e à cerveja local, onde cada cidade, vila ou bairro tem uma micro cervejaria. Atualmente existem mais de cinco mil marcas de cerveja, e há uma grande resistência às grandes corporações e aquisições.

Bohemian Style Pilsner

Cerveja da escola alemã criada em 1842 na cidade de Plzeñ, na República Tcheca, em resposta à popularidade da cerveja Pale Ale. Além disso, é conhecida como Pilsner Urquell (Urquell = Original), e o lúpulo mais utilizado em suas receitas é o Saaz. 

Cerveja de coloração amarela intensa, com balanço de amargor moderado, aroma e sabor de lúpulos nobres, com notas nítidas de malte suave e adocicado e corpo médio. Este estilo de cerveja apresenta notas suaves de diacetil ou DMS. Teor alcoólico varia de 4,1% a 5,1%.

German Style Pils

Cerveja de coloração palha a amarelo claro, com forte formação e estabilidade de espuma. Apresenta aroma e sabor de lúpulo moderado a pronunciado, com amargor fino, elevado e marcante. Apresenta corpo baixo, com suave residual adocicado de malte podendo ser percebido. Teor alcoólico varia de 4,6% a 5,3%.

Münchner Helles

Cerveja de coloração amarelo claro a amarelo profundo, com equilíbrio aromático e gustativo de lúpulo e malte. A presença de sabor lúpulo é baixa e de suave amargor. Perfil sensorial de malte que remete a pão, refrescante, de corpo médio e pode apresentar leves notas sulfurosas. Teor alcoólico varia de 4,8% a 5,6%.

Dortmunder Export

Estilo de cerveja da escola alemã que surgiu para a exportação. Apresenta coloração amarelo claro a amarelo ouro profundo, com aroma marcante de malte que remete a pão. Aroma e sabor de lúpulos nobres podem existir em níveis baixos a médio-baixo, de corpo médio. Teor alcoólico varia de 5,1% a 6,1%.

German Style Märzen

Estilo de cerveja da escola alemã criada para aproveitar a primavera (Märzen = Março) e utilizar o malte e o lúpulo, já que no verão as cervejarias ficavam fechadas, e a cerveja ficava armazenada a frio até outubro, quando eram consumidas. 

Cerveja de coloração dourado intenso a marrom avermelhado. Apresenta aroma acentuado de malte que remete a pão e biscoito em maior intensidade que as notas de lúpulo, que devem ser suaves e estar em segundo plano. 

Doçura de malte de média-baixa a média, podendo conter notas suaves de caramelo. Corpo médio, com sabor de lúpulo baixo e amargor médio-baixo a médio. Teor alcoólico varia de 5,1% a 6,0%.

German Style Oktoberfest

Este estilo da escola alemã faz menção ao casamento da princesa Therese e o príncipe Ludwig, que aconteceu em 12 de outubro de 1810, sendo hoje uma grande festa em toda a Baviera, que virou tradição como “Festa de Outubro”. 

Cerveja de coloração amarelo intensa a dourada, com dulçor residual do malte suave, balanceada pelo amargor do lúpulo. Aroma de lúpulo é baixo, porém notável, e de corpo médio. Teor alcoólico varia de 5,1% a 6,1%.

Vienna Style Lager

Cerveja da escola alemã que surgiu em meados de 1840. Apresenta coloração cobre a marrom avermelhado. Corpo médio, porém menos intenso que uma Märzen. Aroma de malte com presença de dulçor residual, com suave grau de tostado. Aroma de lúpulo muito baixo a baixo e amargor baixo a médio-baixo. Teor alcoólico varia de 4,8% a 5,4%.

Münchner Dunkel

Cerveja de coloração marrom claro a marrom, com aroma e sabor de malte predominantes, com balanço entre dulçor, amargor de lúpulo e corpo médio. Notas suaves de chocolate, tostado ou biscoito devem estar presentes devido à utilização do malte Munique. Sabor e aroma de lúpulos devem ser baixos. Teor alcoólico varia de 4,8% a 5,3%. 

German Style Schwarzbier

Coloração marrom escura a preta, com caráter torrado dominante, dulçor baixo a moderado e corpo baixo a médio-baixo, com amargor baixo a médio. Teor alcoólico varia de 3,8% a 4,9%.

Bamberg Style Märzen Rauchbier

Até aproximadamente o ano de 1700, os maltes eram secos por meio do calor da queima de madeira, conferindo notas defumadas à cerveja. O desenvolvimento de novas tecnologias removeram esse aroma que era típico de todas as cervejas da época. Este estilo de cerveja preservou essas características, sendo produzida com os métodos tradicionais na região de Bamberg, e é o estilo de especialidade da região. 

Esse estilo varia em intensidade de aroma defumado, podendo ser leve a intenso, em equilíbrio com aroma de malte e lúpulo. Amargor baixo a médio e corpo alto. Teor alcoólico varia de 5,1% a 6,0%. Além deste estilo, existem outro estilos alemães defumados como Helles Rauchbier, Bock Rauchbier e Wizen Rauchbier. 

Traditional German Style Bock

Em geral, as cervejas Bock são mais robustas e mais alcoólicas, com maior presença de malte. A coloração varia de marrom escuro a bem escuro, cerveja bem maltada, de corpo médio a intenso. O caráter de malte é apresentado de forma equilibrada entre malte doce e tostado/acastanhado. Sabor e aroma de lúpulo são baixos. Teor alcoólico varia de 6,3% a 7,6%.

German Style Doppelbock

Coloração acobreada a marrom escuro, com caráter de malte dominante com notas que remetem a um leve tostado. Corpo alto e sensação alcoólica elevada, amargor e sabor de lúpulo baixo e no aroma ausente. Ésteres frutais são percebidos em nível baixo a moderado, remetendo à ameixa e uvas passas. Teor alcoólico varia de 6,6% a 7,9%. 

German Style Maibock

Estilo da escola alemã também chamada de Heller Bock, onde “Hell” significa claro, pois apresenta coloração entre amarelo claro e âmbar claro. Apresenta caráter maltado tanto no aroma quanto no sabor, que remetem a notas de pão. Corpo médio a intenso, com aroma, sabor e amargor de lúpulo em níveis baixos a médio-baixo. Teor alcoólico varia de 6,3% a 8,1%. 

South German Style Hefeweizen

“Hefe” significa levedura e “Weizen” significa trigo. Este estilo da escola alemã também é conhecido como Weissbier, onde “Weiss” significa branco. Apresenta coloração amarelo claro a âmbar, com aroma nitidamente frutado e fenólico que remetem à banana e cravo ou noz moscada. A presença de lúpulo é baixa tanto no aroma quanto no amargor. 

Cerveja bem carbonatada e atenuada, de corpo médio a intenso. Geralmente esse estilo de cerveja apresenta bastante levedura ao fundo da garrafa, que comumente é misturado junto com a bebida. Teor alcoólico varia de 4,9% a 5,6%.

South German Style Kristal Weizen

Cerveja de coloração amarelo palha a âmbar, com aromas e sabores muito similares a Hefeweizen, com notas frutadas e fenólicas; porém, como é filtrada, não apresenta as notas da levedura. Sabor e aroma de lúpulo ausente e baixo amargor, são bem atenuadas e altamente carbonatadas. Teor alcoólico varia de 4,9% a 5,6%. 

British Style Barley Wine Ale

Cerveja encorpada de residual doce do malte em níveis elevados. Complexidade de álcoois superiores e ésteres frutais elevados, contrabalanceada pelo amargor médio e teor alcoólico extremamente elevado. Aroma e sabor de lúpulo de médio a baixo, com aromas de malte que remetem a caramelo e presença de notas envelhecidas como cereja e vinificação são bem vindas. Teor alcoólico varia de 8,5% a 12,2%.

South German Dunkel Weizen

Coloração amarronzada a marrom escuro, com dulçor de malte e caráter achocolatado presentes. Elementos fenólicos e ésteres são evidentes, porém mais discretos que as outras Weissbiers. São bem atenuadas e bastante carbonatadas, de baixo amargor, podendo ou não conter levedura. Teor alcoólico varia de 4,8% a 5,4%.

South German Style Weizenbock

Cerveja que pode ser clara ou escura, com elevado teor alcoólico, porém equilibrada pelas notas maltadas (Bock) e ésteres e fenóis (Weizen). Quando escura, podem apresentar notas suaves de torra no sabor. Amargor baixo, carbonatação elevada, de corpo médio a intenso, podendo ou não conter levedura. Teor alcoólico varia de 7,0% a 9,5%.

Berliner Style Weisse

Cerveja de coloração bem clara, palha e turva, com elevada carbonatação e refrescância. Elaborada com a combinação de bactéria lática (fermentação), o que confere acidez e corpo atenuado. Amargor muito baixo, com ésteres frutais em intensidade média a baixa. Podem apresentar caráter de Brattanomyces em níveis baixos a médio. Teor alcoólico varia de 2,8% a 5,0%. 

Düsseldorf Style Altbier

Cerveja de coloração cobre a marrom escuro, com aroma e sabor de lúpulo baixo a médio, com atributos típicos de lúpulos europeus. Corpo médio a baixo, com amargor médio a alto. Sabor e aroma de malte contribuem em níveis médio-baixo a médio, podendo remeter a castanhas e suave torrado. Aftertaste seco e ésteres frutais podem estar presentes em níveis baixos. Teor alcoólico varia de 4,6% a 5,6%. 

German Style Kölsch

Cerveja de coloração amarelo palha a dourado, com uma boa estabilidade de espuma. Corpo baixo, aroma e sabor de lúpulo baixos, amargor médio a médio-alto. Ésteres frutais, quando presentes, devem estar em concentrações baixas, remetendo à pera e maça, com aftertaste seco. Teor alcoólico varia de 4,8% a 5,3%.

E aí, conta pra nós, qual é a sua cerveja favorita da Escola Alemã?