Com a chegada da estação do verão no Brasil e do calor, nossa boca chega a salivar, na espera por uma cerveja gelada trincando. Normalmente, o estilo mais requisitado nessa época por aqui é a tradicional American Lager ou uma American Premium Lager, que conhecemos popularmente como Pilsen ou Pilsener das grandes marcas.
Porém, você sabia que existem outros estilos interessantes de cerveja perfeitos para apreciar nessa estação? E que diversos desses estilos contém o cereal trigo em sua receita? No texto de hoje do blog da Cerveja Sapatista vamos conhecer um pouco mais sobre as deliciosas cervejas de trigo!
O uso do trigo na produção de cervejas
Você já deve ter ouvido falar que é muito comum chamar a cerveja de “pão líquido”, certo? Essa descrição faz ainda mais sentido para cerveja de trigo. De acordo com Garret Oliver, no famoso livro “a mesa do mestre-cervejeiro”, ao longo da história, diversos cereais foram utilizados na feitura da cerveja, como emmer, espelta, aveia, centeio, painço e sorgo.
Porém, devido ao índice relativamente baixo de gomas e proteínas e por conter uma casca dura, facilitando a filtragem e evitando o entupimento de tanques, a cevada acabou se tornando o cereal preferido dos cervejeiros. O trigo, por sua vez, não tem casca, sendo um cereal bem mais trabalhoso; assim, é muito difícil fazer uma cerveja somente com esse cereal.
Por outro lado, as mesmas qualidades que auxiliam na feitura da cerveja utilizando a cevada dificultam a produção de pão. Dessa forma, o cervejeiro optou pela cevada, e o padeiro, por trigo, mas nem sempre foi possível ser seletivo. Ambos sempre usaram misturas de cereais, e, com o tempo, os cervejeiros descobriram que o malte de trigo misturado com o malte de cevada traz características agradáveis para a cerveja.
O que torna as cervejas de trigo tão queridinhas para os climas quentes é que, geralmente, quando fabricadas com proporções adequadas do cereal, elas são leves, super refrescantes e possuem alta carbonatação. Além disso, não costumam ser cervejas muito amargas e possuem uma acidez que rapidamente sacia a sede, o que as torna extremamente fáceis de beber. Ainda, os ésteres frutados, que aparecem em alguns exemplares de estilos, trazem um caráter que remete ao dulçor e facilitam a entrada de novos consumidores, que não estão tão acostumados com a diversidade de aromas e sabores das cervejas artesanais.
Em geral, as cervejas de trigo são melhores quando novas, por isso há grande chance de, quando você for consumir uma cerveja de trigo, estar consumindo uma cerveja fresca. Além disso, a maioria não é filtrada, trazendo a opacidade produzida pelas proteínas do trigo e pelas leveduras utilizadas. As proteínas do trigo que produzem a turvação deram origem ao termo Weissbier (cerveja branca), que é o nome do estilo mais popular, quando falamos em cervejas produzidas com trigo. O estilo também é conhecido pelo nome de Weizenbier, que significa literalmente cerveja de trigo e vamos falar um pouco melhor dele ao longo do artigo.
Quais são os tipos de cerveja de trigo?
Normalmente quando se fala de cerveja de trigo, os principais estilos que vêm à cabeça são a Weiss, da escola alemã, e a Witbier, da escola belga. Ambas são claras e têm características frutadas e fenólicas.
Porém, é importante saber que existem outros diversos estilos de cerveja, de outras escolas cervejeiras, que também levam trigo na receita e não necessariamente vão conter essas características sensoriais. Vamos então conhecer alguns desses estilos e aprender a diferenciá-los?
Weissbier
Popularmente conhecida como Weiss, é uma das mais populares cervejas de trigo encontradas no Brasil, produzida por diversas cervejarias artesanais e uma das principais portas de entrada de novos consumidores nesse mundo. Também é bastante popular, sobretudo ao sul de seu país de origem, a Alemanha. A fabricação das Weissbier modernas, próximas das que conhecemos hoje, data de 1872, realizada pela tradicional cervejaria Schneider.
No entanto, esse estilo só tornou-se popular a partir da década de 60. Sua receita é composta de pelo menos 50% de malte de trigo, sendo o restante malte de cevada. A coloração pode variar de amarelo claro a dourado e geralmente possui uma espuma branca muito espessa. Também é característica do estilo uma aparência bastante turva por conta do alto teor de proteína do trigo e da capacidade menor de floculação das leveduras utilizadas em sua produção.
Uma característica marcante desse estilo é a presença do aroma e sabor de banana e por vezes tutti-frutti, proveniente de compostos químicos conhecidos como ésteres, gerados durante a fermentação. Outro aroma característico que aparece nessas cervejas é o de cravo, proveniente de compostos fenólicos que também são gerados especificamente pelas leveduras utilizadas para produzir esse tipo de cerveja.
Witbier
De origem belga, o estilo também chamado de Bière Blanche (em francês) é fabricado com uma proporção de trigo não maltado e temperada com especiarias, como casca de laranja azeda e coentro.
Nas versões brasileiras, existem versões variadas que também levam cascas de outras frutas cítricas. Contendo esses sabores cítricos vivos, podem possuir uma sensação de refrescância ainda maior do que as tradicionais Weiss alemãs.
Também possui coloração que pode variar de amarelo palha a dourado claro, é turva e com uma espuma densa.
De acordo com o guia de cervejas do BJCP, esse estilo possui mais de 400 anos de idade, tendo sido resgatado por Pierre Celis, no município de Hoegaarden e com crescente popularização entre os produtores de cervejas artesanais. Possui um agradável sabor de grãos maltados doces, muitas vezes com caráter de mel ou baunilha e um final, muitas vezes ácido, que estimula o próximo gole.
American wheat
Esse estilo é a versão da escola americana das cervejas de trigo e é ideal para quem quer se deliciar com o perfil sensorial trazido pela utilização do grão, mesmo não apreciando os aromas e sabores frutados provenientes pelos ésteres e fenóis. Aqui, a fermentação é limpa e o que ressalta é a utilização de variedades de lúpulos americanos, que podem trazer nuances cítricas, picantes e florais, equilibradas com as notas de pão e massa, provenientes da utilização do trigo.
Apesar de não possuir um corpo alto, a utilização do trigo traz uma sensação de corpo “cheio e fofo” para a cerveja. Normalmente, em sua fabricação é utilizado menos malte de trigo do que uma Weiss (geralmente 30 – 5-%). Também possui uma coloração que pode variar de amarelo palha até o amarelo dourado e uma grande formação de espuma branca, de boa persistência.
O estilo não é tão popular no Brasil, quanto a Weiss, mas já foi produzido por algumas cervejarias artesanais brasileiras. Originalmente, teria surgido como uma adaptação do estilo de trigo alemão, utilizando uma levedura com caráter limpo e mais lúpulo, por cervejarias artesanais americanas.
Berliner Weisse
Na Alemanha, na região de Berlim surgiu uma variação das cervejas Weissbier, cuja acidez pronunciada resulta da acidez láctica. Por lá, os consumidores desse estilo geralmente adoçam a cerveja com xaropes de frutas e ervas, fazendo uma espécie de coquetel de cerveja.
De coloração amarelo palha, esse estilo apresenta um teor alcoólico mais baixo do que as outras cervejas apresentadas até aqui, que pode variar entre 2,8 a 3,8% de ABV. De acordo com o guia do BJCP, tem sido descrita por alguns consumidores como a cerveja mais refrescante do mundo. Isso se deve, provavelmente ao corpo baixo, seu baixo amargor e elevada acidez láctica. Além dos sabores secundários equilibrados de massa e pão, provenientes do uso de trigo.
Na receita, o conteúdo de malte de trigo é tipicamente de 50%, enquanto o restante geralmente é composto por malte de cevada do tipo pilsen. A fermentação se dá através da simbiose de leveduras com espécies bacterianas de Lactobacillus, que contribuem com a acidez láctica típica do estilo.
Catharina Sour
Oficialmente o primeiro estilo de cerveja brasileiro catalogado pelo guia do BJCP, a Catharina Sour tem bastante semelhança em suas características com a Berliner Weisse. Originária de Santa Catarina, surgiu em 2015 como uma colaboração entre cervejeiros artesanais profissionais e cervejeiros caseiros para criar uma receita com ingredientes locais e adequada ao clima quente do litoral.
Rapidamente o estilo se espalhou por outros estados brasileiros e ganhou versões com variadas frutas. A aparência da cerveja pode variar de acordo com a fruta utilizada e a espuma sempre tem boa formação e retenção. Aqui, diferente dos xaropes utilizados nas Berliner Weisse, o sabor da fruta fresca domina, complementado por uma acidez lática limpa e o sabor de malte é bem sutil.
Também são mais alcoólicas do que as Berliner Weisse, podendo variar o ABV de 4,0 até 5,5%. Na receita, os grãos são tipicamente malte Pilsener e trigo (que pode ser maltado ou não maltado) em proporções iguais. Por ter amargor baixo, acidez e o sabor da fruta é uma cerveja extremamente indicada para conquistar paladares ousados ou que não estão acostumados com os tradicionais sabores e aromas encontrados em outros estilos de cerveja.
Dunkelweizen
Para esse estilo existem versões claras e escuras, podendo ser as versões claras ligeiramente douradas a âmbar claro e as versões escuras podendo variar de âmbar escuro a marrom escuro. Como na maioria das outras cervejas de trigo, é característica uma espuma muito espessa e cremosa e presença de turbidez. Para essa receita é utilizada uma porcentagem elevada de trigo maltado (pelo menos 50%, embora possa conter até 70%) e o restante é composto por maltes como Munich, Vienna e Pils, dependendo se for uma versão clara ou escura.
Aqui aparecem novamente os típicos caráteres de banana e cravo, provenientes da fermentação das cervejas Weiss. As versões claras possuem um rico perfil maltado com sabores de pão tostado e grãos doces, enquanto as versões escuras podem ter notas significativas de caramelo. Além disso, as versões escuras podem ainda ter sabores de frutas escuras, como ameixas e uva passa. São cervejas mais alcoólicas e complexas, não sendo tão indicadas para o verão.
Weizenbock
Para esse estilo existem versões claras e escuras, podendo ser as versões claras ligeiramente douradas a âmbar claro e as versões escuras podendo variar de âmbar escuro a marrom escuro. Como na maioria das outras cervejas de trigo, é característica uma espuma muito espessa e cremosa e presença de turbidez. Para essa receita é utilizada uma porcentagem elevada de trigo maltado (pelo menos 50%, embora possa conter até 70%) e o restante é composto por maltes como Munich, Vienna e Pils, dependendo se for uma versão clara ou escura.
Aqui aparecem novamente os típicos caráteres de banana e cravo, provenientes da fermentação das cervejas Weiss. As versões claras possuem um rico perfil maltado com sabores de pão tostado e grãos doces, enquanto as versões escuras podem ter notas significativas de caramelo. Além disso, as versões escuras podem ainda ter sabores de frutas escuras, como ameixas e uva passa. São cervejas mais alcoólicas e complexas, não sendo tão indicadas para o verão.
Dicas de harmonização com cervejas de trigo
As cervejas de trigo são bem versáteis e podem ser harmonizadas com diferentes tipos de comidas. Combinam com pratos das culinárias chinesa e mexicana, saladas e comidas de boteco. Além disso, harmonizam muito bem com o café da manhã no estilo alemão, com diferentes queijos, carnes curadas, salsichas e presuntos.
Para o público vegetariano, elas também são uma ótima opção de harmonização. Com pratos mexicanos, por exemplo, a Weissbier mostra o poder de limpeza da sua carbonatação, absorvendo as gorduras do queijo e do abacate e atravessando o amido do feijão e do arroz. Os temperos desses alimentos também casam perfeitamente com os condimentos encontrados em uma Weissbier. Assim como os temperos de pratos indianos também podem se alinhar perfeitamente numa harmonização por semelhança com cervejas desse estilo. Adicionalmente, a witbier é a companhia perfeita para uma salada, desde que ela não contenha ingredientes doces demais. A cerveja fica excelente com molho vinagrete e aceita uma infinidade de opções. Com peixe, a Witbier também é uma verdadeira sensação, com suas notas cítricas ressaltando os sabores naturais dos pratos.
E você concorda que as cervejas de trigo são realmente as queridinhas da estação? Qual é o seu estilo preferido? Já provou alguma dessas cervejas que descrevemos aqui e harmonizou? Compartilha conosco suas impressões sobre o artigo e as cervejas que vamos adorar saber.